09 setembro 2010

O último post

                O fuso-horário demorou a se acostumar. Sono dez horas da noite, despertar às 7 da manhã, até que eu tava gostando disso! Mas nada que um fim de semana indo dormir de madrugada não resolva.
                Faz dez dias que voltei pra Brasília, e ainda não vi todo mundo que eu queria ver.
               
                Muitos me perguntam como foi a viagem, e minha vontade é ser grosso e responder “lê o blog, porra”. Mas uma das coisas que eu aprendi nessa viagem é que grosserias desnecessárias são desnecessárias mesmo, e o meu lado sociável responde meio que evasivo: “foi bom demais! Não tem como não ter sido, né?” E realmente não tem como... será que as pessoas realmente acham que existia a possibilidade de não ter sido? Então como alguns são espertos, perguntam: “então, o que você mais gostou da viagem?” E quando me perguntam assim, tenho muito gosto em responder.
                A Alemanha. Se fosse pra responder em uma palavra, seria “Alemanha”. Porque aquele país é sensacional. Amo meu país, amo minha cultura, estranho a cultura dos outros. Mas como muitos me sugeriram, fui com a cabeça aberta, e graças a isso tive a oportunidade de enxergar as coisas sob o ponto de vista dos outros e enxergar um pouquinho mais além do que se vê. Quebrei o pré-conceito de que os alemães são pessoas fechadas, sérias e que não brincam. Pelo contrário, são risonhos, simpáticos e adoram uma brincadeira, como a gente, mesmo que em ambiente de trabalho e na relação aluno-professor. Mudei a idéia de que seria um país marcado por uma guerra que aconteceu há 65 anos e que a gente ainda vê resquícios dela por aí. É um país lindo, moderno e ao mesmo tempo antigo, com história que não é apagada para que ninguém se esqueça dos impactos que os atos de poucos podem ter na vida de muitos. E confirmei o gosto que eu tenho pela língua alemã.
                Mas claro, isso foi só o que eu mais gostei na viagem, não significa que seja a única coisa que eu tenha gostado na viagem. Até sinto saudades das amizades que fiz, do clima de diversão que existia entre o grupo, de falar inglês, espanhol e alemão o tempo todo. Quando estava em Aachen, tinha medo do resto da viagem. Nada poderia superar o quanto aquele tempo estava sendo bom. Quando estava em Londres, foi tão bom que não acreditava que em Roma poderia ser melhor. E quando estava em Roma e tive o mesmo pensamento, cheguei à conclusão de que não poderia pensar isso naquele momento, pois era o momento que estava vivendo, e claro que ele pareceria melhor que todo o resto. Hoje, quando vejo de certa forma “de fora”, percebo que todas as três fases da viagem foram ótimas, com suas vantagens e desvantagens, mas que não colocam nenhuma em cima de outra. Cada uma teve suas características, seus pontos fortes e seus momentos que não vou esquecer.
                O curso em si não foi nada do que eu esperava. Esperava uma turma enorme, e não os 9 que se conheciam pelo nome. Esperava uma matéria difícil, e não nada impossível, muito menos matéria de mestrado. No final me saí bem, voltei com o certificado e com o conhecimento de que esse não é minha área favorita na Engenharia Mecânica, de que há outras coisas que me atraem muito mais.
                O que mais valeu na viagem toda, como todos imaginam, é a experiência. Todos imaginam, mas só quem já fez isso sabe o que significa. Ler, ouvir, acompanhar, nada se iguala ao vivenciar. Poderia ficar aqui falando por muito tempo sobre todas as coisas que se aprende, mas não adiantaria de nada. Só posso dizer que se alguém estiver pensando em fazer alguma coisa parecida com o que eu fiz, incentive, da mesma maneira que eu fui incentivado. É uma experiência de vida singular.

                Queria agradecer a todos que acompanharam o blog. Começou como uma idéia para que meus pais soubesses de mim, uma coisa pequena. Quando voltei, pessoas que eu jamais imaginaria me contando que acompanhavam o blog, se divertiam. Fiquei surpreso e feliz, porque me fez me sentir mais querido. Obrigado pelos comentários, pelas mensagens no meu celular, pelos e-mails, pelo carinho, pela recepção no aeroporto, por me acompanharem. Estou sempre dizendo: a solidão durante a viagem foi o mais difícil, mas escrever no blog me levava mais pra perto de casa, e se vocês não estivesses acompanhando, o blog não teria sentido. Então obrigado! =)

                O dia que eu for viajar de novo, quiser contar alguma história legal, “aviagemdomurilo” volta! =)

O vôo pra casa

                Demorei, mas vou contar como foi o finzinho da viagem.
                Acordei em Munique três e meia da manhã. Não dormi direito, acordava todo o tempo durante a noite com medo de perder a hora, e uns caras ainda fizeram barulho no quarto, mas levantei na hora certa. Já tinha deixado tudo arrumado, então foi só juntar tudo e cair na estrada.
                Graças àquela minha precaução, já tinha conferido qual horário do metrô, então não tive nenhum problema. Cheguei ao aeroporto faltando 40 minutos pro embarque, fiz check-in (a sensação de despachar aquelas malas foi maravilhosa) e esperei uns 20 minutos pro embarque.
                Estava com uma sensação de dever cumprido. Tinha planejado tudo, repassado tantas vezes na minha cabeça, que naquela hora, ver tudo certinho, como o planejado, foi gratificante.

                E mais uma vez, minha sorte com vôos. Munique – Lisboa sentado no corredor. Um cara na janelinha e ninguém na poltrona do meio, ou seja: conforto. Lisboa – Brasília, então... tenho que explicar! Era um avião grande, com três fileiras de poltronas, onde as duas perto da janela tinham 2 poltronas, e a fileira do centro, 4. Meu assento era o 18D, e quando percebi que era no meio da fileira do meio me decidi que pediria pra trocar, caso houvesse outro assento vago. O vôo estava meio atrasado o embarque demorou a começar, e quando começou, eu não vi. Quando percebi, havia uma fila quilométrica, mas o que fazer? Entrei na fila e fui embarcar. Procurei meu assento e não havia ninguém ao meu lado ainda. Sentei e esperei. Cada pessoa que se aproximava eu ficava imaginando se se sentaria ao meu lado, mas ninguém sentava, até que pararam de embarcar! Perguntei pra aeromoça se faltava muita gente pra entrar, e ela disse que não, que eu provavelmente ficaria sozinho naquela fileira mesmo. É, eu comecei a gargalhar, não acreditava na minha sorte!
                Mesmo com tanto conforto, o vôo não foi tão bom. Com sono, não conseguia dormir devido ao nervosismo de voltar pra casa, e foram 9 horas vendo filme e jogando joguinhos. E as pessoas perto de mim me olhando com aquela cara de “vou matar esse moleque deitado sozinho nessas quatro poltronas, enquanto eu tenho que sentar do lado desse estranho aqui”.
                Enfim, depois de muita turbulência estava de volta ao Brasil. De volta à secura do planalto central, à desorganização do aeroporto que atrasa na entrega das malas e à má vontade dos agentes alfandegários que não se importavam com a minha vontade de 34 dias de voltar pra casa.

                “Olha lá ele”! Foi a voz do Miguel que eu ouvi primeiro. Adoro meus amigos, e eles adoram me fazer passar uma vergonha. “Me racha a cara de vergonha”, o Vini leu meus pensamentos.
                Meus amigos e amores estavam no aeroporto pra me receber, e eu estava em casa.